30.4.11

Dias inéditos...

Escutados os depoimentos de diferentes personalidades que deambulam pela escola ou pelo Bairro, de momentos vividos em alturas da revolução do 25 de Abril, eis que voei até à sala dos meus alunos. Descontrolados, teimavam em dialogar aos berros e ao mesmo tempo. Das suas vozes guardo flashes inequívocos. Aconteceu o que já suspeitava. Não deveriam ter iniciado a aula tão cedo. Naquelas cabeças, já nada seria como idealizaram no dia anterior. Senti uma enorme agonia e impotência para salvar aquela aula. Fui dura nas palavras. Vacilei enquanto fiz impor a decisão tomada pela Direcção. Olhei-os nos olhos, tão dentro que quase lhes senti a alma. Imploravam para que não fossem para casa. Acompanhei 2 deles ao portão por teimarem em permanecer no recinto escolar. Apenas a 1 deles foi permitida a reentrada, por volta das 13h00, apenas para almoçar. Má ideia, naquele caso. Jamais o aluno em causa conseguiria gerir esta situação. Abriu-se o precedente desejado. Entrou e só saiu, muito mais tarde, depois de se ter escondido várias vezes e, eu o ter procurado por todo o lado. E ainda, só depois de ter forçado a entrada na sala de aula e se ter envolvido numa briga com outro colega, de me ter faltado ao respeito e à verdade. Ouviu, de novo, as palavras duras que proferi, numa tentativa de o chamar à razão. Sentiu a minha voz trémula e cansada, as lágrimas que teimavam em cair… enquanto lhe explicava as razões das medidas tomadas. Situações como esta, acontecem com muita frequência, desgastando-nos gradualmente. Ao início da tarde, mesmo na altura em que me deslocava para o átrio principal, no sentido de almoçar qualquer coisa, dois alunos envolveram-se numa briga muito feia, apanhando-me pelo meio. Em jeito de defesa e num gesto de fúria, a vítima fez balançar o seu braço no sentido de esmurrar o colega mas quem o apanhou fui eu. Nem o senti, senão a dor no queixo e a sensação de que o Mundo desabava à minha volta. Um momento constrangedor para os três. Nada o fazia prever. Mas, nem mesmo assim, o agressor parou. Nesta altura, revoltada e, ainda mais dorida, dei por terminado o meu dia e FUGI. Fugi sem olhar para trás. No carro, sozinha, desabafei em lágrimas. Pergunto-me, vezes sem conta, se será justo sujeitarem-nos a situações como esta para que possamos fazer, profissionalmente, o que mais gostamos.


Não fosse a minha sobrinha, sentada ao meu colo, a acarinhar-me, e nada voltaria a ser igual. Só ela, na sua inocência, se apercebeu do quanto em baixo eu estava. Inédito este dia.
Dois dias passados, ainda o inchaço na cara e a dor no queixo. Haverá seguro que nos cobra?! Existirá algum domínio na avaliação dos Professores que contemple situações como esta? Os danos colaterais podem ser irreversíveis.


Tell@

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