29.7.11

mundos (im)perfeitos!

Pedem-nos que sejamos perfeitos. Entre tantos nós imperfeitos, acabamos por bloquear. Entre palavras normais e assertivas, calam-se as ideias que vagueiam em forma de pensamento aluado. Nem mesmo a criatividade já é o que era. Agir sem autonomia mantendo a mesma rotina é uma tarefa demasiado controlada. Odeio a rotina e todos quantos a aplaudem. A rotina inibe-me e despe-me completamente. É preconceituosa. É matreira. Alimenta-se de vícios, alienando-nos. Para não perderem o controlo da situação, preferem ser seus escravos. Deleitam-se à sua sombra, errantes. Neste castelo, a magia só acontece uma vez por ano, e sempre da mesma forma. Com o mesmo sabor e o mesmo cheiro. Corrosiva e trapaceira, inviabilizando todo e qualquer voo.
Discordo deste formato de vida. O pensamento não deve ser condicionado pela acção. Este deve vaguear e percorrer-nos na pele, por entre veias, ao longo do nosso sentir. Quero voar em pensamento. Imaginar e dar forma às ideias que pululam dentro de mim. Sem vacilar. Sem rodeios nem intempéries. Sonhar é um acto livre. Mesmo que não passe do papel. Levanto as asas mas quebram-me o voo, por ciúme. Por bloqueio interno. Muitas pessoas nascem e morrem pequeninas e insignificantes. Nem olhando para o lado se inspiraram. O império dos que se sentem absolutos está em estado de ruína. Se não mudarem rapidamente de modelo de acção, agarrando a casa pela estrutura principal, o recomeço tornar-se-á impossível. Pensar, planear e agir com criatividade e imaginação é, cada vez mais, urgente. Mesmo as mais pequenas tarefas exigem o melhor de nós. Exigem novas propostas, invocações, num trabalho de equipa, aceitando as ideias dos outros, respeitando, evidenciando capacidades de liderança. É, no conjunto, que reside a força da verdade e da justiça. Todos remando na mesma direção. (Re)construindo e revitalizando de forma positiva. Na busca da perfeição e da magia da vida. Deixando as ideias fluir. Deixando o pensamento ganhar forma. Partilhando as emoções e as (des)emoções. Num espaço comum. Com vida própria, necessidades vitais, capacidades, ideias e sensações. Não existem mundos perfeitos. Não existem ser autómatos nem robotizados. Somos humanos, erramos, caímos e levantamo-nos. Pedimos ajuda e auxiliamos. Com correcção e visão. Com respeito e carinho.
Urge caminhar neste sentido, sem demora. Mais cego é aquele que não quer ver. Olhar, por si só, não significa ver. E quem não vê, dificilmente sente. O mundo é feito de sensações e contradições. O exterior só nos controla quando o permitimos. É dentro de nós que reside a equação da vida. A resposta para as nossas contrariedades. A cobardia nem sempre nos permite abraçar o inóspito. Em prole da felicidade, escolhemos a segurança. E, quando assim sentimos ou reagimos, por mais que olhemos em redor, tudo será sentido ao nosso tamanho. É na diferença que a nossa criatividade se recompõe. Abraçar a diferença é crescer com ela. Afinal, nem mesmo ao espelho, conseguimos descobrir as diferenças. Há quem, mesmo depois de adulto, não queira deixar o ninho. O pavor inibe. Fá-los permanecer estanques e agarrados a mitos. Presa a ideias erróneas. São pessoas passivas. Receosas, encolhem-se deixando de abrir portas ao desconhecido. Posso respeitar, mas não aceito. Não aceito que alguém se desmaterialize, agarrada às saias do passado, ao invés de partir em busca da sua essência. Nestas alturas, a corrente tem pouca força e quebra com facilidade. As mãos alheias recolhem, cansadas. Choram e lamentam. O esforço foi em vão. Deitadas nos bolsos de umas velhas calças, tristes e encolhidas, voltam a adormecer. Percorrem mais alguns quilómetros, na textura de um volante, sem rumo certo. Afinal, são elas que alcançam, em primeiro lugar, o Mundo do sentir. Num destino sem coordenadas. Desafinado, desorientado mas revestido de sentido. Fecha-se uma porta e abre-se uma janela, mesmo ao fundo do túnel. Olho o mapa desconfiada. Perdi o norte. Um sinal que importa ler. Diz-me ser hora de parar e descansar. Mesmo dentro de mim.
Tell@

1 comentário:

Che. disse...

adorei o texto. a parte que mais me tocou foi ..."Todos remando na mesma direção. (Re)construindo e revitalizando de forma positiva. Na busca da perfeição e da magia da vida. Deixando as ideias fluir. Deixando o pensamento ganhar forma. Partilhando as emoções e as (des)emoções. Num espaço comum. Com vida própria, necessidades vitais, capacidades, ideias e sensações. Não existem mundos perfeitos. Não existem ser autómatos nem robotizados. Somos humanos, erramos, caímos e levantamo-nos. Pedimos ajuda e auxiliamos. Com correcção e visão. Com respeito e carinho."

obrigada!

Arquivo do blogue