6.4.12

Manhã pálida...

Sentada na varanda da vida, reorganizo o meu pensamento. No horizonte, um mar enublado e triste. Sem céu que o vigie. Sem Olimpo que lhe segrede tons de azul. Deixo-me soerguer discretamente, ora na companhia de uma nuvem ora de uma nesga de sol. Nesta manhã, uma fuga sorrateira por entre transeuntes de bagagem vazia. Deambulavam sem intento. Depressa me senti emersa em grãos de areia e pingos largos de chuva. Aportada e reconfortada, encostei e calei. À minha volta, uma vastidão de silêncio. Um deserto de serenatas de maré. Chuva que me cobriu lentamente. E a Maresia. No meu rosto o seu corpo deformado. Sentia-a. Arrepiei-me vezes sem conta. Nos meus pés o frio translúcido da sua água. Nos meus ouvidos, umas notas soltas de mar. Na partitura, a sua brisa, ténue e doce. Inspiradora. Deixo cair algumas lágrimas em segredo. Impunes e salgadas. Vestidas de pele, procuram os braços do oceano. Escorreitas, adormecem em seu regaço. Partem juntos para parte incerta. A chuva parou. No céu, um braço que se estica e me toca. É o recomeço da profecia. É o regresso a casa. Rápido e seguro. E depressa me afastei daquele refúgio.
Tell@

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