15.1.12

Perdão.

Mais uma vez, de forma atroz, senti o quanto pequenina sou neste mundo. Senti o chão fugir-me dos pés e, mesmo assim, continuei a palmilhá-lo como se nada tivesse acontecido. Não há solução que nos alivie esta dor. Ela invade-nos e devora-nos lentamente. O pior é pensarmos que o mal só acontece aos outros. Esquecemos de olhar para o lado. Para aqueles que estão mais perto de nós. Que são sangue do mesmo sangue. Ou quase. Aqueles que nunca vão, senão temporariamente. Hoje fiquei sem chão. Perdida entre a realidade absoluta e aquela que imaginamos ou desejamos. De facto, não somos nada neste mundo. Pequenos e insignificantes nas mãos ou desígnios de alguém muito superior a nós. Pedi que o tempo parasse contudo, esta tarefa não está ao meu alcance. Há muito que o sabia mas, dentro de mim, no meu mais intimo não o desejava. Depois de sermos tão violentados intimamente ao longo da nossa vida, passamos a acreditar que mais nada de mau vai acontecer. Cerramos os olhos e desejamos veemente por melhores momentos. Intenções que não passam disso mesmo. Olho em redor, tento imaginar-me na dor de cada um, numa vã tentativa de evitar a solidão. Queria poder ajudar milagrosamente. Mas só a Deus cabe tal incumbência. Somos mesmo demasiado pequeninos. Insignificantes. Preocupados com a nossa dor mais do que com a dos que amamos. Preocupados com o olhar dos outros, como se estes fossem importantes. Sobrevivemos num mundo de egoístas e altruístas, incapazes de parar e de pensar. Nele me incluo. Hoje perdi um pedaço do meu chão. Amor é muito mais e um gesto maior. Vem do coração, da alma e aconchega. Ajuda a acalmar e aceita. É olhar quem amamos, direitos ao coração, e pedir perdão ou perdoar. Sem vacilar, procurando paz na alma. São gestos simples, sem retorno. É entrega total sem necessidade de agradecimento ou compreensão. E é no aconchego de quem amamos que nos reencontramos. Quer queiramos, quer não. Onde nos sentimos muito mais seguros. Aninhados de novo, como no ventre materno. Perdoar e aceitar só está ao alcance de alguns. Não que não possamos mas, porque nos esquecemos do que somos feitos ou daquilo que nos faz doer. O mais importante é vivermos em harmonia connosco e com Deus. É importante que não nos esqueçamos que para atingirmos os nossos objectivos temos de saber perdoar. Estender a mão. Que o perto não significa distancia e que o longe, pode ainda ser mais perto. Aqui mesmo no nosso coração. A nossa vida acontece num palco improvisado e emprestado, por um período muito curto de tempo. Não quero perder quem amo, por sentimento de insegurança. Por cegueira aparente. Por achar que posso ajudar quando sei que não me cabe a mim fazê-lo. Não podemos recuperar os erros, mas podemos evitar que outros nos roubem, de vez, o chão. Hoje perdi o meu. Resta-me lamentar a minha incapacidade de, apenas, abraçar quem amo e reduzir-me à minha insignificância. Nas diferentes formas que existem de amar. Somos tão insignificantes aos olhos de Deus. Tão imensamente pequeninos. Todos nós, sem excepção. Amo poucas pessoas, mas com a mais pura verdade e simplicidade que guardo no meu peito. Os meus e os dos outros. Pessoas únicas e singulares. Mas nenhuma como a minha querida mãe. A minha luz. Preciso dizer-lhe tudo isto urgentemente. Ao ouvido, ou no seu colo.


Tell@

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